quarta-feira, 5 de setembro de 2007

a explicação não está na fala

05/09/07

OFICINA 1: A experiência.

Então, como dizia, ontem o Estêvão e eu nos deparamos com a planilha de oficinas e vimos que estavam requisitando intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para recepcionar uma turma. A escola foi a Padre Reus, de 8ª série e a experiência foi melhor e pior do que esperávamos. Vamos aos fatos.

Recepcionamos a turma e, na entrada fomos advertidos pela professora da necessidade do intérprete que esteja ligado ao campo das artes, o que é bem diferente de um intérprete como ela, que é professora deles. Pois bem. Julgamos, ainda assim, que os cartazes que produzimos no dia anterior serviriam para nos comunicarmos com eles.
Entramos na sala e iniciamos com um BOM DIA! escrito e passamos aos exercícios. Um breve aquecimento e a divisão em grupos. Se foi um tanto difícil a comunicação através dos primeiros cartazes, de apresentação, foi mais difícil ainda que eles captassem a proposta do exercício através das descrições de ações que passamos a eles.
Ei-las:

FUI À FEIRA.
COMPREI TOMATES NUMA BANCA.
ENTREGUEI À OUTRA.
E FUI EMBORA, SEM DAR EXPLICAÇÕES.
DIMENSÕES DE ACORDO COM OS TOMATES.


UMA CÂMERA QUE INSTALEI NA SACADA DE CASA GRAVOU UM ASSALTO À MÃO ARMADA.
REPRODUZI ESSE VÍDEO EM CDs E OS DEPOSITEI EM CONFESSIONÁRIOS DE IGREJAS, EM MESAS DE REPARTIÇÕES PÚBLICAS E SEDES DE ÓRGÃOS MILITARES.

CARIMBEI EM CÉDULAS DE DINHEIRO A SEGUINTE PERGUNTA:
“DE QUEM É ESSE DINHEIRO?”


RECUPEREI A PRIMEIRA CARTA DE AMOR QUE RECEBI NA VIDA, FIZ CÓPIAS E AS DISTRIBUÍ ENTRE REVISTAS E FILMES PORNOGRÁFICOS POR VÁRIOS LUGARES DA CIDADE.
DIMENSÕES ESTRANHAS


ESCREVI CARTAS DE AMOR A PESSOAS DESCONHECIDAS E AS DEPOSITEI EM SUAS CAIXAS DE CORREIO. NÃO ASSINEI E NEM DEIXEI ENDEREÇO PARA RESPOSTA.
ESTOU ATÉ HOJE AGUARDANDO QUE ME FAÇAM O MESMO.


PRODUZIR PLACAS COM NOMES DE RESTAURANTES E AFIXAR EM LIXOS E DETRITOS PELA CIDADE.
DIMENSÕES GRANDES


Uma colega nossa, que é mediadora da Mostra Zona Franca, a Tati, também entende um pouco de LIBRAS e nos atentou para o grave problema que é não ter nenhum intérprete contratado, até mesmo na equipe de mediadores. O Estêvão e eu tentamos produzir as frases e as ações pela intuição, sem nos darmos conta de que, por exemplo, a construção de frases para quem não ouve é muito diferente daquela usada por nós. A Tati disse, por exemplo, que a conjugação dos verbos, os tempos verbais precisam ser outros, no infinitivo, mais diretos. Dado isso, percebemos a dificuldade deles em interpretar o que propúnhamos. Contudo, em geral estavam bem empolgados com a oficina e dispostos a fazer mesmo. O que foi fundamental para o fechamento do trabalho.
Eles foram divididos em quatro grupos e o resultado de cada um deles foi ótimo. Em pelo menos dois, percebeu-se não só uma interpretação do que estava proposto, mas uma transcendência, uma outra leitura. Foi lindo mesmo.
Mesmo assim, fica o alerta. Já conversamos sobre isso e a Letícia, coordenadora do Espaço Educativo aqui, está providenciando esse contato para solicitarmos o intérprete, que julgamos de vital importância. Após a mediação – nós havíamos recebido a turma antes do roteiro – a Tati veio falar conosco e ficou mais evidente que, embora eles curtam a visita e a oficina, a compreensão, a troca, o diálogo se torna essencial para avançar no entendimento da idéia do artista e, conseqüentemente, transcendê-la.
Enquanto esse profissional não surge aí, o Estêvão e eu estamos reformulando os cartazes para podermos trabalhar melhor – imaginamos – com uma próxima turma.


OFICINA 2: O Outro Lado da Fala

Engraçado propor a mesma oficina para um grupo de falantes e, embora, a compreensão da proposta seja mais ágil, o resultado não seja assim tão tocante ou questionador ou reflexivo. Ficamos com a interpretação literal dos enunciados, sem falar no grupo que não quis apresentar. Eles estavam cansados, após caminharem pelo roteiro.
Nota: comunique-se bem com o professor, seduza-o para que ele te ajude na oficina. Mas, se não der certo, se a expectativa não corresponder, é bobagem. Propor já é tudo. A semente se planta e a incompletude, associada à preguiça, é só um mero obstáculo, que faz parte do processo.


José - Espaço Educativo

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